Por Marcus Vinícius Simon Leite
Colunista colaborador do Jornal Bom Dia, de Erechim-RS.
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SOBRE O SILÊNCIO
Hoje em dia é muito difícil conseguir encontrar um local onde o silêncio impere absoluto. O mundo moderno, que parece ocupar todos os espaços, produz ruídos diversos. Os dias corridos e barulhentos nos impedem até de ouvir os pássaros. Como dizia Schopenhauer: “da árvore do silêncio pende o seu fruto: a paz”. Mas será que somos capazes de encontrar a tranquilidade somente quando há ausência de barulho? Será?
Suicídio
Na semana que passou, trouxe aos leitores alguns dados sobre a triste realidade que envolve este tema. Inevitável, portanto, não o relacionar ao silêncio. Aqui, neste caso, me refiro ao silêncio noutra conotação, como um hábito. Melhor dizendo, como mau hábito (vício), que muitas vezes é praticado quando ignoramos o que se passa no íntimo das pessoas com quem convivemos. Sabe? Algo como quando ocupamos o silêncio com o ruído da vida moderna. Serei mais claro: fones de ouvido, televisão ligada para as paredes, vidros fechados, gente falando por todo o lado. O silêncio pode ser a ausência de som, sim, mas ele também pode ser preenchido com objetos, atitudes e certas barreiras que, por fim, nos impedem de ouvir os outros. Como estar, a todo momento, voltado para o celular.
Agora não
Tomo como exemplo a minha própria rotina. Por vezes, quando trabalho em casa, algum dos meus filhos se aproxima.
Volta e meia, por conta da rádio ou mesmo do jornal, preciso estar com fones de ouvido. Presto atenção nos detalhes do áudio, que os barulhos da avenida me impedem de ouvir. Então, acabo
fazendo o mesmo com eles. Não raro, ainda digo: agora não!
E isso pode estar errado, se for regra. Que o “não” é necessário todos sabem, mas a negativa deveria estar sempre acompanhada de um “quando”. Uma expectativa, uma esperança, um compromisso. Por exemplo: “agora não posso, mas em alguns minutos converso contigo. Pode ser?” Mas… e quando o “outro” está lá fora, não é da família, não esbarra contigo no banheiro ou na cozinha? Bom, daí é bem diferente. Mas também acontece.
Leitores
Meus leitores já devem ter reparado. Às vezes escrevo coisas que provocam. Me dei conta de que isso pode ser uma espécie de pedido de socorro. Quando escrevemos, não sabemos quem nos lerá, quantos serão e o que da leitura será absorvido ou processado. É a cada coluna, uma nova espiral de silêncio
se inicia. Isso talvez justifique a razão de minha rebeldia e tendência por temas mais polêmicos, pois a provocação gera reações. Respostas. Quebra essa espiral, ainda que tenhamos de conviver com a crítica. Ação e reação. E na vida prática acontece a mesma coisa. Volta e meia cruzamos com pessoas
difíceis em nosso caminho, que tentamos evitar, pois são chatas (como eu). Gente que vai se estragando por causa do barulho. Um barulho que também as impedem de dizer: estou aqui ó!
Relações familiares
Bert Hellinger, com sua grande contribuição para o estudo das relações familiares, criou mecanismos capazes de nos fazer entender a teia que envolve as nossas famílias. Infelizmente, o problema não se restringe à teoria, por mais importante e útil que seja. É preciso desenvolver uma prática, para além da terapia dos outros. Precisamos melhorar nossa capacidade de audição. Treinar nosso ouvido – e o coração – para atender e entender as pessoas. E não há nada melhor do que começar de dentro para fora. Estar vigilante. Por trás de uma aparente tranquilidade, de um silêncio agradável (às vezes perigoso) podem existir desequilíbrios, dissabores. Em muitos casos, uma simples palavra já resolve. Mas quando o silêncio se torna frequente, quando as pessoas deixam de ser ouvidas, até mesmo as pequenas coisas podem se transformar em fantasmas, causar medo e transformar algo banal em uma patologia da alma.