POR ANA LAURINDO, Mestra em Educação Brasileira na Linha História e Política, Cientista Social, cidadã, amante e defensora do direito de viver.
O princípio de uma organização social que não oferece espaço para todas as pessoas é a distinção dos fortes. Não seria exatamente um darwinismo social baseado em força e estratégia de sobrevivência, porque este formato não admite facilidades e privilégios, que é exatamente o que os distintos da alta classe econômica possuem. Eles são fortes porém não muito, pois são assessorados, orientados, protegidos e beneficiados desde tenra infância.
São os milionários de Santa Catarina que recebem benefício público para estudar enquanto filhos de trabalhadores, que já estudam e trabalham, exageram nos sacrifícios em busca de um lugar ao sol. Por mais que se esforcem não terão garantias.
Os fortes da sociedade excludente são herdeiros de sobrenomes representativos de carreirismo político, que não se esforçam para aprender nem mesmo a falar, pois qualquer balbucio que emitem provoca aplausos e lhes garante um assento na prefeitura do lugar.
O modelo de sociedade que abordamos é violento para a essência humana quando exige que todos tenham, mas impede a maioria de ter. Nesta imposição de senhas, a saúde mental e as referências comunitárias são agredidas, criando processos de agressividade que vão do interior ao externo, levando dos indivíduos o valor de ser, que realmente sacia e felicita, quando existe com nitidez.
A desigualdade social e econômica oscila entre períodos de maior ou menos crueza. Estamos vivendo no Brasil um contexto de acirramento de saques ao benefício público, por menor que seja. Isso está ligado a um projeto geopolítico subsidiado por propostas que retomam relações escravagistas e controle global através do enfraquecimento político humanitário.
Como a sociedade é complexa, os encaminhamentos destes processos também o são. Mas deixam rastros. Precisamos aprender a seguir e interpretar rastros desse desamor global, para protegermos nossas moradas comuns, feitas em territórios continentais, nacionais, federativos, citadinos e habitacionais.
Estamos na política do mundo desde o dia em que aportamos nele, saindo do ventre da mãe. Não há como fugir dessa assertiva sem corroborar para o sucesso do fracasso que planejaram para todos nós, considerados partes fracas, embora sejamos fortes.
Todos os dias uma página de terror se abre em Brasília através da Câmara Federal e Senado. Não deixe que alguém interprete para você, busque entender com seus próprios recursos, e de preferência, como pessoa cidadã, não como pessoa religiosa. Lembrar que o estado é laico, que o sistema capitalista não tem religião mas sabe performar, e acima de tudo, que somos inteligentes e capazes de aprender o que sempre nos negaram, pode ajudar a encontrar caminhos no emaranhado político que propositalmente foi construído para nos afastar dos nossos próprios interesses.
Amanhã poderá ser tarde? Sim. Considerando a pressa com a qual estão nos tirando direitos desde o ano de 2016, já podemos dizer, se houver amanhã.
Hoje é o tempo de defender a vida. E a vida social é um fenômeno político.
Artigo publicado no Repórter Nordeste: